Depois da semana do calouro, 1° dia de aula em sala (Sala 4- térreo)
(...)Wlad: ... Um tipo de registro virtual.
Colega de turma: Tipo um diário de bordo?
Wlad: É, isso. Expor ao leitor o que acontece em sala de aula...
Eu só comigo: Putz, égua não.
Cheguei alguns minutos atrasada na aula da professora Wlad. Abri a porta que faz barulho quando abre e quando fecha, olhei para a turma ainda incompleta, estavam sentados nas cadeiras em meia lua de frente para a professora da disciplina Trajetórias do Ser Wlad Lima e para uma outra professora a Ana Lobato , olharam para mim.
Eu morta de vergonha pedi licença. Eu com medo da Wlad me chamar atenção peguei a cadeira. Eu com medo de escorregar no piso da sala que estava um pouco liso ou era minha sandália um pouco molhada, coloquei a cadeira ao lado do Clediciano, sentei, dei mais uma revisada na cara da galera. Vi a Erica e a Rosa, tentei achar a Priscila, ela ainda não havia chegado.
E por que tanto medo?
Não sei dizer exatamente o que me deixou com medo, apenas pensei que poderia acontecer algo de vergonhoso comigo. Tipo, eu escorregar e cair de bunda no chão e todo mundo rir, eu sentar na cadeira e ela quebrar ou a professora me chamar atenção, iii mano, essas situações me deixariam sem graça. :/
Bom, já sentada, vi que estava tudo bem, olhei para a professora e senti um alivio, me senti feliz de está ali como aluna do curso de licenciatura plena em teatro. Dei um leve sorriso e pensei: quem diria eu aqui. Suspirei. Ela me olhou, consegui encará-la e ela olhou para outro e para outra e para outro e para todos que ali estavam e os que foram chegando depois. Era como se ela estivesse dando a máxima de atenção para cada um dali.
A meia lua foi crescendo, novas pessoas se encaixando, de repente era um circulo de pessoas reunidas falando de suas relações, experiências com o teatro, falando de si mesmas.
Como aquelas pessoas conseguem falar de si mesmas? E me perguntei.
É mas fácil falar de um personagem do que de mim mesma.
A Erica foi a primeira a falar.
Ela falando: Bem, sou de Santarém... (kkkk)
Quando a segunda pessoa começou a falar eu abri meu caderno, peguei a lapiseira, comecei a escrever sobre minha relação com o teatro e sobre mim.
Eu escutava as pessoas falando de suas vidas em relação ao teatro. Alguns falaram de suas famílias que não gostam muito da ideia: “Mãe, vou fazer vestibular para teatro.”
Outros falaram que começaram em teatro de igreja, escola, na própria rua de casa como uma brincadeira de amigos. Ouvi-los me levou ao passado. Lembrei da minha primeira peça de teatro na escola, era época de natal, então a peça foi do nascimento de Jesus, fiz a estrela, minha professora segurava o microfone próximo minha boa enquanto eu falava e segurava a cima de minha cabeça uma estrela feita de papel e coberta por um outro papel luminoso e olhava para toda aquela gente. Mães e crianças de colo, adolescentes e adultos, alunos e professores. Era uma escola pública de ensino fundamental.
Lembrei de quando eu assistia às novelas da Thalía que o SBT exibia: Maria do Bairro, Maria Mercedes, Marimar, etc. Gostava da Thalía, queria ser como ela quando eu crescesse.
Faltava apenas eu e um rapaz para encerrar com as apresentações. Eu olhei para ele e ele estava de cabeça baixa, olhei para a turma e a maioria me olhou, decidi falar.
Dei uma risada, disse: Ai gente!
Em segundos, acho que uns três, eu olhei para o caderno e pensei se falaria tudo o que eu havia escrito. Não, melhor não falar tudo, falo o que vier na mente. Do que eu escrevi aqui, falarei apenas isso:
“O que eu sei de teatro é muito pouco e nada. O que eu sei é que teatro é algo imane.
Ele te faz se perguntar, e se? E se eu fizesse teatro? E se eu ouvisse teatro? E se eu cantar no teatro sem saber cantar? E se eu tirar a roupa para o teatro e não para o público? E se o público for o teatro? E se o teatro me levasse para um palco de vida onde a vida fosse de verdade e não uma encenação? E se uma senhora de 60 anos interpretasse uma garotinha de 14? E se eu emprestasse meu corpo para um personagem que eu odeio? E se...?”
Falei também sobre o que eu tinha lembrado. Da peça da escola em que eu era a estrela, da Thalía (nessa hora todos ou quase todos riram), das peças que fiz na igreja, das minhas iniciações teatrais, da unipop, etc...
Mas não se enganem pensando que eu estava tranquila. Pelo contrario, eu senti minha voz tremula, na maioria do tempo fiquei olhando para o piso e para minha bolsa que estava sobre minhas pernas se olhei para todos umas duas vezes foi muito e lembro que quando eu olhei, vi um rapaz mexendo no celular, pensei: “Isso é bom pois é menos um me olhando, isso é ruim pois é menos um não prestando atenção no que digo.”
Em nenhum momento eu olhei para a Wlad, não sei qual foi à expressão facial dela sobre minhas palavras, não sei se ela teve expressão, não sei se ela chegou a mexer a boca, a engolir saliva ou piscar os olhos, simplesmente não tive coragem de olhar. Eu estava tímida.
Depois que todos falaram, fomos para o intervalo de 15 minutos. Eu sentei em umas das cadeiras que ficam próximas a secretaria e fiquei conversando com meus amigos, percebi que o rapaz que estava mexendo no celular enquanto eu me apresentava passou por la me olhando de uma forma tipo: “Acho que essa menina é doente.”
Kkkk, isso é meio radical!
Acho que foi do tipo: “Ela ta com algum problema.”
Não sei explicar o motivo, talvez ele nem tenha me olhado daquele jeito, vai ver eu apenas imaginei, com essa minha imaginação doentia e deformadora do real. Ou eu realmente estava com cara de doente? Bem, meu cabelo estava despentiado.
Fui ao banheiro com a Pri, ela entrou num e eu em outro, conversamos fazendo xixi =D
Lembro que ela disse algo como: “Vamos nos ajudar”. Entendi o que ela quis dizer. Ajudar-nos desde emprestar uma simples caneta ou algo de grande magnitude. Estarei com ela, estaremos juntas.
De volta à sala, Wlad dividiu a turma em vários grupos de três pessoas, cada grupo ficaria com um texto. No meu grupo ficou a Terezinha - uma garota muito simpática e legal- na verdade somos uma dupla por enquanto, é que faltaram algumas pessoas e a pessoa que entrar será o debatedor ou debatedora eu e Teresinha seremos as expositoras.
A Larissa teve uma duvida, a Wlad para explicar, fez um exercício muito interessante.
Wlad: Quantas pessoas são na tua família?
Larissa: Eu, minha mãe e minha empregada.
Wlad: Então, procure alguns da turma (no caso três pessoas) para ficar no lugar de sua família.
Ela escolheu a Natalia (eu a chamo de Restart, depois eu explico o porquê), o menino que ficou no telefone enquanto eu me apresentava e que no intervalo me olhou de um jeito tipo: “Ela ta com algum problema” e mais o Diego.
O exercício era o seguinte: colocá-los em uma posição que de alguma forma indicasse a relação que a família dela tem.
Wlad: Agora você, Larissa, senta e os três farão algum movimento que venha do coração. Algo que vocês queiram fazer simplesmente porque deu vontade. Um movimento do coração.
E fizeram.
Enfim, o exercício acabou e conversamos um pouco, a menina restart quis fazer o mesmo exercício. E o fez. Quando as pessoas que ela escolheu fizeram o movimento do coração, eu olhei para ela e percebi que algo a havia tocado.
A professora Wlad explicou mais algumas coisas e dispensou dizendo:
-Boa Noite!
Calma, ainda teve a lista da presença.
Pronto, agora sim.
=]